Amor, me chama de trauma e me supera

Muita gente vive relações intensas que mais parecem montanhas-russas emocionais. Entre promessas quebradas, silêncios manipulativos e uma saudade que mais parece abstinência química, o que era pra ser amor vira um ciclo vicioso de dor com glitter.

Neste texto, Vossa Pena fala — com sarcasmo e lucidez venenosa — sobre relacionamentos tóxicos, romantização do sofrimento e o vício moderno de confundir afeto com aflição.

Quando o amor adoece e ainda assim você chama de lar… Tem gente que acha que amar é aguentar. Aguentar sumiço, mentira, afago que vem depois do tapa. Aguentar frio na barriga que, na real, é só o corpo avisando que algo ali fede mais que promessa de político em época de eleição. Mas a mente insiste em chamar de amor o que é, no fundo, só medo de ficar só. Medo de perder o pouco que resta. Medo de se encarar no espelho sem o reflexo do outro validando sua existência. E aí começa o fetiche pela dor.

Não dor física — essa é fácil de reconhecer. É dor de espera, dor de migalha, dor de ‘tô aqui mas não tô contigo‘. Uma dor que se disfarça de paixão intensa, mas que na verdade é dependência emocional maquiada de profundidade romântica. E quanto mais o outro te empurra pra beira do precipício, mais você se convence de que voar é possível com asas arrancadas. “Mas eu mudo ele.Não, amor. Ele já te mudou — e não foi pra melhor.

O que acontece quando tentarmos consertar os outros

Quem vive de tentar consertar os outros, termina quebrada. Com o coração em reforma, o ego rachado, e o senso de realidade jogado num canto, esperando algum cafajeste com sorriso torto vir varrer o chão emocional com os seus restos. Você não é psicóloga da dor alheia. Nem centro de reabilitação pra bicho que nunca quis ser domado. O problema não é que ele tem feridas, é que ele usa as feridas como desculpa pra ferir você. E pior: você virou especialista em justificar o injustificável. Se viciou na adrenalina do imprevisível. Naquele “hoje ele me tratou bem” que vira alívio. Como se fosse prêmio. Como se fosse amor.

Mas amor não deve ser aceno de longe, não deve vir com manual de bomba-relógio. Amor de verdade não te deixa no modo alerta o tempo inteiro. Rir pra não voltar. Ironia como cura e despedida Então agora, com o veneno já destilado e a ferida virando casca, você ri… Não porque foi engraçado. Mas porque foi a única forma de não surtar. O riso veio como escudo, a ironia como vacina contra recaída.

Amor, me chama de trauma e me supera.” — não é só uma frase de efeito. É a lápide dessa história. Uma que merece flores falsas, likes sinceros e distância segura. No fim, você não virou fria. Só entendeu que aquecer quem vive congelando sua autoestima não é romantismo — é autossabotagem com trilha sonora de novela mexicana.

Você se superou. Não por ele. Mas por você. Porque no teatro das relações, às vezes a maior prova de amor é sair de cena enquanto ainda tem dignidade.

Ilustração estilizada de pessoa caminhando com dignidade, deixando para trás elementos de relacionamento tóxico, em estética de colagem zine com tons crimson e dourado

Solte seu veneno 👑